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Não estamos preparados para a democracia

Escrito por Luiz Carlos Leitão

Parece que nosso país virou de ponta cabeça mesmo. Observando o que ocorre nas redes sociais e nas rodas de discussão, isso fica bem claro. Não estamos preparados para a democracia. O tempo todo pessoas achincalhando, desrespeitando e agredindo aqueles que possuem opiniões contrárias. O maior exemplo vem da chamada operação lavajato. Em qualquer discussão que entramos, caso ocorra uma única crítica à determinada conduta do Ministério Público ou do Juiz Sérgio Moro, imediatamente vem a cara fechada e a acusação: você não é patriota, você é a favor da corrupção, você está do lado dos bandidos, você é comunista, etc… etc… etc…

Da mesma forma, quando você elogia determinados comportamentos do Ministério Público e do Juiz Sérgio Moro, a outra parte logo esbraveja: você é golpista, coxinha, você é contra os mais humildes, você é direita opressora, você não suporta um pobre andando de avião, etc… etc… etc…

Outro grupo quer intervenção militar e aí busca exemplos em contexto totalmente diferente do atual para justificar tal pleito. E quando um militar do próprio exército diz que não é pensamento dos militares tomar o poder, pois a democracia se faz com discussão e voto e não com uso de armas, vem os impropérios: general bundão, medroso, antipatriota, comprado, etc… etc… etc…

Parece que todo mundo se apossou da verdade e opiniões divergentes passaram a ser absurdos frente a tal conduta.

Em relação ao Supremo Tribunal Federal ocorre o mesmo fenômeno. Quando as decisões são favoráveis, o Judiciário é enaltecido. Quando desfavoráveis, o STF está acovardado.

No Poder Legislativo, nesse momento, nada presta. Todos são corruptos, aproveitadores, demagogos e individualistas. O Executivo, pra uns salvador da pátria e pra outros golpista e opressor.

A grande maioria, infelizmente, está afeta a estas opiniões radicais, sensacionalistas e arbitrárias que, ao meu ver, em nada ajudam o desenvolvimento de nosso país e no aperfeiçoamento de nossa democracia.

Novamente este estado de coisas me remete à famosa frase: “Democracia é quando eu mando e os outros obedecem. Ditadura é quando os outros mandam e eu tenho que obedecer”.

Seria cômico se não fosse trágico.

Em verdade estamos vivendo um momento de insensatez absoluta onde tudo o que é feito amparando minhas convicções eu aceito, sejam atitudes legais ou nem tanto, democráticas ou nem tanto, justas ou nem tanto. O Judiciário tem que prender quem eu quero, independente do cumprimento de todos os ritos legais. Abuso de autoridade podemos deixar pra lá, desde que seja exercido amparando meu desejo pessoal. O Legislativo só pode votar questões que não me causem nenhuma perda, caso contrário, me revolto.

Passamos boa parte do tempo reclamando da corrupção e das mentiras de nossos dirigentes, mas quando temos a oportunidade de realizar efetivas mudanças, o que ocorre? Buscamos alguém que realize uma bonita campanha (aí os marqueteiros nadam de braçada) e que prometa realizar tudo o que “eu desejo”. Qual o verdadeiro resultado disso? Mentiras, mentiras e a necessidade de gastos excessivos em campanhas. E nessa ciranda mantemos o mantra de reclamarmos de quem nos dirige e não admitimos o mais evidente: A culpa de todos os males inicia-se lá no momento do voto.

E assim seguimos defendendo implicitamente nosso maior desejo: resolvam o problema do país, mas sem sacrifício algum de minha parte.