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O país do faz de conta

Escrito por Luiz Carlos Leitão

Acho interessante como os governos levam o trabalho prisional no Brasil. De um lado a legislação sedenta em conseguir, através de seus dispositivos, a reinserção social de apenados, de outro o anseio popular pedindo por uma redução nos indices de criminalidade que possam melhorar os niveis de segurança.

O pessoal do Estado faz de conta que trabalha para reinserção social de condenados e os apenados fazem de conta que estão se recuperando para a vida em sociedade. Um mundo de insensatez absoluta que aumenta a criminalidade e põe pilha na relação Estado/Detento, deixando as penitenciárias sempre em estado de alerta.

E por que isso ocorre? Simples pra quem participa ativamente do meio com olhar crítico e um razoável conhecimento sobre o comportamento humano. Prisões desrespeitosas, descuidadas, sem padrão de trabalho, tratamento deseducado, desumano, desleal e sem respeito a dignidade humana, tentando transformar marginais em seres educados, disciplinados, leais e dignos.

O Estado se apressa em montar estruturas físicas adequadas pra dar condições de trabalho, estudo, saúde, apoio jurídico e social aos presos, com condições mínimas de alimentação, moradia e trabalho. Contudo falha em tres aspectos fundamentais para o sucesso de qualquer tipo de empreendimento: primeiro não cria padrão de comportamento em todas as suas áreas, segundo não treina adequadamente seus profissionais para trabalharem em cima de padrões e terceiro não tem mecanismo eficaz de controle sobre a execução destas importantes atividades.

A continuar neste ritimo, seguramente teremos a cada ano a necessidade de construirmos mais instalações prisionais, a insegurança vai continuar aumentando e os planos insanos de governo pra conter tudo isso, continuarão indo para a mídia com a simples intenção de dar explicações.

Se o Estado não desenvolver mecanismos que possam tornar seus atores, agentes de mudança, obtida pelo exemplo de seriedade, dedicação, empenho, educação, dignidade e respeito, nada resolverá esse tedioso problema. O agente penitenciário deve ser um agente de transformação e não de castigo. O cárcere como um todo não deveria ser um local de castigo, deveria ser um local de reeducação.

O Estado precisa desconstruir a linha de pensamento do criminoso e reconstruir uma nova linha de raciocínio, imbutindo princípios e valores que possam lhe dar uma nova estrutura de vida.

Mas para que isso ocorra precisa primeiro desconstruir a sua própria linha de raciocínio e se reconstruir com princípios e valores que o façam, efetivamente, sair deste mundo de faz de contas.