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Postura social e vergonha política: Binômio da solução.

Escrito por Luiz Carlos Leitão

Dia após dia, perto ou longe de nós, temos noticias de mortes violentas. Dentro do trabalho, na escola, na balada, em casa, no trânsito ou em qualquer lugar que seja. Salvo raríssimas exceções as causas tem como gatilho o uso indiscriminado de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas. Ficamos chocados, tristes, revoltados, indignados. Nestes momentos optamos sempre por ter soluções que nos vinguem pelos sentimentos aflorados.

Mas quando decidimos assim, inconscientemente acabamos por ter atitudes que ao invés de resolver um problema, cria outro. Violência gera violência, raiva gera raiva, intolerância gera intolerância.

Invariavelmente queremos bater na punição. Aumento de tempo no cumprimento de penas, diminuição da idade penal, investimento em repressão, etc. Estamos sempre visando soluções imediatas para um problema tão complexo e que exige uma gama de políticas públicas e posturas sociais de longo prazo.

Creio que o aumento no tempo de cumprimento de pena não resolve e isso está comprovado ao longo dos anos de incompetência prisional no Brasil. Tanto isso é verdadeiro que temos nos deparado constantemente com a atuação dos ditos mutirões carcerários que, observando-se o tempo de pena cumprida, absurdamente, fazem progressões de regime aos detentos, independentemente de se ter certeza que este está apto ou não ao retorno social, atitude esta que visa especificamente diminuir o numero de presos nas cadeias, abrindo mais vagas para novas prisões.

Num país onde quase 70% da população carcerária é composta por reincidentes, isso me parece pouco inteligente. Dever-se-ia investir, não em aumento de penas, mas no cumprimento adequado dos anos imputados na condenação, atuando de forma eficaz que conseguisse recuperar estes reclusos e devolvê-los capacitados para o seu retorno ao convívio social.

Da mesma forma, a redução da idade penal, joga jovens ainda em formação nas podres cadeias brasileiras, intensificando a formação de verdadeiros marginais, nessas já reconhecidas faculdades do crime.

Sem duvida que políticas públicas direcionadas para a educação seriam divisores de água que poderiam por controle a essa situação. A melhoria na qualidade do ensino poderia, seguramente, minorar as desigualdades sociais, geraria cultura e proporcionaria maior discernimento aos jovens. Jovens esses, que quando adultos, talvez por terem recebido uma melhor formação, mantivessem melhores diálogos com seus filhos, educando-os adequadamente para que aos 14 anos de idade não iniciassem sua proximidade com bebidas diversas, cigarros e drogas, a princípio inofensivos, mas que rapidamente os joga no ciclo vicioso de excessos, geradores da violência que tanto nos assusta nesses dias.

Ver jovens menores de 21 anos de idade, bebendo até a embriaguez, reivindicando a legalização da maconha, participando de baladas entre domingos e quintas até o amanhecer, não me parece razoável. Dá-me a impressão que algum princípio ou valor maior está sendo deixado de lado.

Isso apavora fortemente porque vemos as possibilidades de melhorias futuras atreladas diretamente à dois aspectos fundamentais: 1) atividades políticas sérias e 2) um envolvimento social profundo através da instituição “família”.

Contudo, num período de correria social desenfreada, calcada no consumismo, na imperatividade do “ter” sobre o “ser”, além de políticos inconsequentes, preocupados sempre com soluções imediatistas, apenas viabilizadoras da próxima eleição, parece-me distante a possibilidade de virarmos esse terrível e amargo jogo.