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Preparados para a Democracia?

Escrito por Luiz Carlos Leitão

Estamos preparados para viver em uma democracia?

Faço e refaço esta pergunta constantemente e, em cada momento, reluto em aceitar o óbvio. Os fatos que se nos apresentam diariamente, seja na imprensa, seja no convívio comum de trabalho, estudo, lazer, religiosidade, familiar, esportivo, ou outro qualquer meio de interação social, comprovam definitivamente que não estamos em condições culturais, emocionais e morais de bater no peito e dizermos com toda clareza que somos verdadeiramente democráticos.

Podemos perceber isto em diversos momentos de nosso cotidiano quando odiamos, por exemplo, em uma reunião de trabalho, o fato de nossas ideias não serem abraçadas por todos, quando em nossa equipe de futebol, nossos planos táticos não serem colocados em prática, quando nos revoltamos com o pronunciamento de nosso líder religioso que difere do nosso, quando nossos amigos não aceitam fazer a atividade que escolhemos para aquele momento, quando nossos mestres determinam determinado trabalho ou tipo de prova e o contestamos apenas pelas dificuldades que enfrentaremos, quando a lei nos impõem determinadas condutas e, com jeitinho brasileiro, as burlamos. Enfim, diversos comportamentos que tem uma única vertente, canalizada exclusivamente na minha própria vontade. É o clima prático de que se as coisas não são do meu jeito eu me revolto.

Esse tipo de comportamento acaba aparecendo com muita clareza em fatos como o visto à pouco na batalha do centro cívico em Curitiba. Ali, acredito, está refletida toda nossa verdade democrática. Policiais e professores, ambos defendendo pontos essenciais em suas vidas, qual seja, um defender seu direito ao trabalho, protegendo o patrimônio público e sob ordem judicial, e o outro defendendo seu livre direito de clamar por seus direitos, naquele momento, interpretado como sendo prejudicados. Sem entrar no mérito de haver pessoas mal intencionadas infiltradas em ambos os lados, me reporto apenas ao comportamento das pessoas de boa índole e de boa vontade que lá estavam.

Policiais despreparados, ao menos uma boa parte deles, para aquele tipo de confronto. Culpa destes? Claro que não. Professores despreparados, ao menos uma boa parte deles, para aquele tipo de confronto. Culpa destes? Claro que não.

Acredito ser culpa de um despreparo coletivo que começa lá no mau eleitor, circula pelo mau legislador, passa pelo mau julgador e sucumbe diante de mau gestor. Um ciclo vicioso de incapacidade que nos faz chegar a esse estado de selvageria onde pessoas boas, com bons propósitos se digladiam como na idade média, um estado de barbárie e truculência que envolve a todos e fere a todos.

Creio que temos que repensar tudo isso, mas devemos iniciar fazendo um “mea culpa”. Admitindo nossas fraquezas de comportamento, nossas limitações morais, nossa pouca capacidade de respeitar, tolerar e amar o próximo.

Apontar o dedo e buscar um culpado para fatos tão comuns e graves em nossas vidas não me parece algo inteligente. É comum, habitual e aceito pela maioria, mas não resolve o problema. Fortalecer as instituições, criar maior tolerância em nossas relações mais comuns e habituais, acertar nosso pequeno espaço de atuação, talvez seja o caminho pra minorarmos o problema e talvez, ao longo de algumas décadas, chegarmos a viver uma bela e verdadeira democracia.