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Famílias na Luta Contra o Crack

Escrito por Luiz Carlos Leitão

Lendo o editorial de terça feira, 25 de setembro, não poderia deixar de parabenizar a Tribuna do Norte por entrar em um tema de extrema relevância para toda a nossa sociedade. Trabalho numa área intimamente ligada à questões de violência, que se espalha de forma alarmante em nosso país. De fato o problema da drogadição tem deixado todos atônitos e perdidos com relação aos métodos possíveis e viáveis para sua erradicação.

Uma estatística sombria e apavorante ronda nossas instituições de segurança pública e se comenta, infelizmente sem base científica ainda, que a cada 10 crimes graves cometidos no Brasil, por volta de 6 tem motivação por drogas lícitas e ilícitas. É uma realidade dura e deveria nos levar ao debate, como esse provocado pela Tribuna em seu editorial.

Vivi a cerca de alguns meses atrás, em Curitiba, uma situação muito triste e ouvi uma das frases mais fortes e apavorantes de que tive oportunidade de presenciar pessoalmente. Por solicitação de um pai desesperado, amigo meu, fui até um “puteiro” na capital do Estado. Lá, um local sombrio e deprimente, um verdadeiro lixo, fui buscar o filho dessa família em desespero. Chegando até ele, pedi para que viesse comigo, pois seus pais o aguardavam e queriam seu retorno. Pedi a ele que tivesse força e lutasse contra aquele desejo doido de curtir aquele “barato”. A resposta dele me surpreendeu: “Eu não quero lutar contra, quero me entregar totalmente. Avise aos meus pais para que desistam de mim, assim como eu já fiz. Tudo o que eu quero é ficar aqui com o meu crack”.

É desesperador ver um jovem, com 28 anos de idade, uma família bem estruturada, com boa situação financeira e cultural, neste estado. Ali tive a comprovação de que não tem essa de classe social, cultura, família, etc…, as drogas estão pegando gente de todos os cantos e de todas as convicções. Esse mal é muito maior do que conseguimos imaginar.

Vários fatores são preponderantes para lutarmos contra esse horror. Não há como vencermos atuando em uma única vertente. Mas acredito que papel fundamental ainda está dentro de casa. Pais próximos dos filhos, esse é o grande segredo. Família reunida falando sobre o assunto. Pais tem que perguntar aos filhos não com quem andam e por onde vão… não como se divertem ou o que bebem na balada. Mas trocar ideia sobre os possíveis resultados de suas ações. Sem brigas ou proibições, mas bons papos, bons questionamentos, boas conclusões acerca de tudo que cerca hoje nossa realidade.

Jovens com mais “conteúdo” soltos por ai, curtindo a vida e se divertindo com responsabilidade, esse talvez seja o caminho menos traumático e mais veloz pra combatermos este estado crescente de violência gerado pelo uso indiscriminado das drogas.